quarta-feira, 8 de maio de 2024

Brancos à Prova da Passagem do Tempo

vinho branco produzido em Portugal só muito recentemente começou a receber elogios que, provavelmente, já deveria ter recebido no passado. Concordo e é certo que na última década se assistiu ao aparecimento de grandes Brancos portugueses, mas não é menos verdade que, aqui a ali, os mais resistentes enófilos vão bebendo umas coisinhas do passado que causam surpresa e merecem atenção. 
Neste sentido, seleccionei umas garrafas directamente da minha garrafeira, colheitas das décadas de 80, 90 e inicio do segundo milénio, convidei uns amigos e fomos à prova dos nove, ou melhor, dos seis. Seis vinhos sem ligação, alguns de entrada de gama à época, abertos cerca de uma hora antes da prova e todos à mesma temperatura. O resultado? Aprovadíssimos! 

CASA DAS GAEIRAS 2006 BRANCO | ESTREMADURA | 12% | PVP  6€
ARINTO, CHARDONNAY, FERNÃO PIRES
GAEIRAS - FREDERICO EDUARDO PINTO BASTO LUPI
16
Belíssima prova da boa passagem do tempo num branco de gama bastante acessível aquando da sua ida para o mercado e que continua cheio de vida, prazeiroso e com uma capacidade de se juntar à mesa admirável. 
Cor amarelo intenso, tonalidade palha, reflexos dourados nitidos, aspecto límpido. Aromas citrinos, laranja, tangerina, toranja, casca de laranja desidratada, infusão de mel e limão, algum fruto seco, desafiante e rico. Boca com garra, secura fina e persistente, texturado, fruto citrino, salivante, equilibrado, longo final.

SÃO DOMINGOS SECO 1997 BRANCO | BEIRAS | 11,5% | PVP  -€
BLEND CASTAS BRANCAS DA REGIÃO
CAVES DO SOLAR DE SÃO DOMINGOS, SA
15,5
Embora mais cansado e com os terceários mais em destaque, consegue dar boa prova e prazer a beber. Todavia, para quem ainda guardar algumas garrafas, o melhor será bebe-las o quanto antes. À mesa juntou-se com sucesso a peixe assado no forno e queijo de meia cura e pasta mole. 
Cor amarelo torrado, reflexos dourados, apontando à sua maior idade. No nariz revela notas de fruta passa, alguma pastelaria, biscoito de manteiga e melaço, fruto seco torrado, mais gordo e com notas terceárias bem presentes, especiaria. Boca com algum volume (surpresa), textura macia, acidez equilibrada, perfil seco,  notas de fruta citrina, tangerina, casca de laranja, final de boca longo.

DOM RAFAEL 1996 BRANCO | ALENTEJO | 12% | PVP  -€
ROUPEIRO, PERRUM, RABO DE OVELHA
ANN W. REYNOLDS & EMILY E. RICHARDSON
16,5
"Provávelmente a mais tradicional e antiga do Alto Alentejo, a Adega do Mouchão foi construida entre 1901 e 1904. As castas tradicionais utilizadas na elaboração deste vinho incluem Roupeiro, Perrum e Rabo de Ovelha. Fermentado em condições de temperatura controlada com leveduras selecionadaas durante um período de 18 dias, o vinho permaneceu 6 meses sobre as leveduras para ganhar uma maior complexidade. Os aromais varietais e aqueles aportados pela fermentação contribuem para um vinho leve de aroma e paladar fresco, para ser consumido jovem." (contra-rótulo)
Está num excelente momento de forma, com muita frescura e vivacidade, escondendo os anos passados como se estivesse em tratamento de beleza desde há muito tempo. Surpreende na cor, mas toda a prova é uma agradável experiência. 
Cor amarelo citrino, luminoso e límpido, com muito pouca presença da passagem do tempo. Nariz intenso, com notas de fruto maduro de pomar, maça verde, fruto citrino, pitada floral, alguma caruma verde, vertente salina e de pedra partida, cabeça de fósforo, pólvora. Boca ainda bem interessante, textura macia, acidez fina e limpa, secura afinada, sem ser austera, ainda com alguma fruta madura, continuando a mostra mar, sal e frescura, terminando longo e persistente.

LUIS PATO 1995 BRANCO
 | BAIRRADA | 12% | PVP  -€
MARIA GOMES, BICAL, ARINTO, CERCIAL
LUÍS PATO
15,5

Revelador de mais mal tratado pelos passar dos anos, consegue dar boa prova e prazer a beber especialmente à medida que a temperatura sobe. No entanto, fica mais uma vez o conselho de prudência na guarda durante muito mais anos de exemplares do mesmo. 
Cor amarelo torrado, âmbar, com reflexos dourados, caído na cor, límpido e sem esconder a sua idade mais avançada. No nariz surgem as notas de fruta de caroço maduras, polpa amarela, marmelo maduro, casca de laranja e algum fruto seco torrado, ainda assim, com frescura e equilibrio. Boca com largura e volume médio, mostrando acidez fina, vivaz, fruto citrino e algum fruto seco, perfil salgado, terminado  com bom comprimento e frescura.

ALBERGUE DO BONJARDIM RESERVA 1994 BRANCO
 | BEIRAS | 12% | PVP  -€
FERNÃO PIRES, CERCIAL, RABO DE OVELHA
HUBERTUS JOHNNES LENDERS
16,5

"Na zona de Pinhal, freguesia de Nesperal, com um micro-clima favorável à cultura da vinha está situada a Quinta da Portela, que produz este vinho das castas antigas: Fernão Pires, Cercial e Rabo de Ovelha; com processos tradicionais e fermentaação espontânea, sem qualquer colagem ou filtração, mantendo desta forma as características de um produto natural. a temperatura ideal para ser servido pode ir até 14ºc. encheram-se 950 garrafas." (nº 40)(contra-rótulo)
Que bela surpresa. Como seria este vinho no ano em que saiu para o mercado? Acho que nunca saberei, mas que está num excelente momento não tenho dúvida alguma.
Cor amarelo citrino intenso, com ligeiros aloirados, sem dourados visíveis, aspecto límpido e jovem para os 30 anos que já carrega. Contido de aromas, sem exuberância desmedida, muito fino, revelando fruto de pomar e citrinos fresco, notas de chá de limão com mel, envolvente e desafiante. Boca vivaz, ainda jovem, com acidez vibrante, fresca e secura fina, muita fruta madura sumarenta, conjunto harmonioso e com término de boca longo e elegante.  

GARCIA PULIDO RESERVA 1990 BRANCO | BAIRRADA | 12% | PVP  -€
BLEND CASTAS DA REGIÃO
GARCIA PULIDO
14

"Este vinho, proveniente das melhores castas da região e elaborado segundo os processos tradicionais de vinificação - bicaa aberta - fermentou e estagiou em toneis de madeira na adega do produtor." (contra-rótulo)
Talvez o mais agastado pelo tempo e o que menos lembrança deixa. Naa prova de boca faz de tudo para se mostrar vivo e aguenta-se na prova e mais tarde no acompanhamento à mesa, mas fica para trás à medida que o tempo vai passando. 
Cor amarelo torrado, com tonalidade dourada evidente, reveladora da sua idade. No nariz revela a fruta de polpa amarela madura, percepçãao de fruta passa, torrados vincados, lado salino, em queda à medida que o tempo passa. Na prova de boca parece querer causar melhor impressão, mostrando-se melhor do que no plano aromático, acidez equilibrada, breve tensão, final de boca médio.

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