sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

Pelo Reino de Jorge Rosa Santos e Rui Lopes no Projecto Lés a Lés

J
orge Rosa Santos e Rui Lopes formam a dupla que corre o País de Lés a Lés por um projecto com o mesmo nome e que nasce com o objectivo de recuperar não só castas menos utilizadas e/ou à beira da extinção, como também antigos estilos de produção de vinho que, por alguma razão, têm vindo a ver o número de garrafas produzidas cada vez mais limitado.
Os quilómetros feitos pelas estradas nacionais noutros projectos juntam-se a este de cariz mais pessoal sendo impressionante a dinâmica, irreverência e, ainda assim, alegria que demonstram ao falar do projecto. 
Na noite em que estivemos juntos, Jorge Rosa Santos chega ao restaurante já com alguma distância percorrida nas pernas e Rui Lopes apenas se junta à mesa cerca de uma hora depois pois teve de fazer uma cansativa viagem desde a região de Távora-Varosa até Sintra para poder estar presente. Com a curiosidade de pouco depois confidenciarem que às 6 da manhã do dia seguinte seguiriam juntos para o Douro. É obra. Haja vontade!
A noite foi agendada para conhecer, mais e melhor, o trabalho de ambos em vários produtores onde fazem vinho, todavia o projecto Lés a Lés, pela sua pessoalidade, despertou outra atenção.
A rotulagem em forma de bilhete antigo de autocarro, como que a dizer que vamos fazer parte da viagem e os nomes dos vinhos, bastante sui generis, aguçam a curiosidade. Em cima da mesa três representantes da ainda pequena colecção de vinhos, com regiões escolhidas a dedo e com número de garrafa bastante limitado. 
O Sério de Síria, Beira Interior, 100% Síria de vinhas a 650 metros de altitude; o L'Immigrant, um Sauvignon Blanc de Lisboa, de uma vinha perto da Merceana; e o Medieval de Ourém, também de Lisboa, Doc Encostas de Aire, com uma história belíssima, embora talvez o vinho mais dificil de concretizar.
 
LÉS-A-LÉS SÉRIO DE SÍRIA 2017 BRANCO | BEIRA INTERIOR | 13,5% | PVP 14,90€
SÍRIA 
WINE ATTITUDE, LDA 
17,5
Uma Síria que é um caso sério. Revela uma elegência e delicadeza imensa, ao mesmo tempo que mostra ter um toque de volúpia e sensulalidade que só os grandes Sírias conseguem revelar. 
Cor citrino intenso, tonalidades esverdeados, aspecto limpo e brilhante. Aromas, contidos de inicio, a fruta de caroço madura, pêssego, alperce e alguma ameixa amarela, envoltas em floral delicado, algum chá de limão e mel, pedra lascada, fresco e desafiante. Envolve-nos na boca com uma equilibrada sensação de cremosidade e acidez, tanino macio, fruta fresca, leve toque baunilhado, ligado e harmonioso, finalizando com muita elegância e frescura.
 
 
LÉS-A-LÉS L'IMMIGRANT 2018 BRANCO | LISBOA | 13,5% | PVP 14,90€
SAUVIGNON BLANC
WINE ATTITUDE, LDA 
17
Uma interpretação do Sauvignon Blanc num registo menos exuberante e clássico, mas mais contido, com mais gordura e largura de corpo e com uma versatilidade mais abrangente. 
Cor amarelo definido, com tonalidade palha e leves esverdeados, aspecto límpido e brilhante. Nariz onde as notas de fruto exótico aparecem bem medidas, com elegância, bem ligadas com notas citricas, algum vegetal envolvente, couve cortada, complexo, em crescendo à medida que vai respirando. Boca muito expressiva, com cremosidade bem colocada e uma acidez aguçada o suficiente, alguma pedra lascada e lado salino, fruta bonita, harmonioso e com término de boca longo.
 
LÉS-A-LÉS MEDIEVAL DE OURÉM 2019 TINTO | ENCOSTAS DE AIRE | 14,5% | PVP 21€
FERNÃO PIRES, TRINCADEIRA
WINE ATTITUDE, LDA 
17
Um desafio imenso reproduzir um vinho feito à base de uma técnica ancestral, que terá chegado a Portugal que via da Ordem de Cister que se diz terá tentado replicar os vinhos das suas origens e que terá resultado neste palhete que dá um prazer imenso a beber.
Cor vermelho intenso, pouca concentração, aberto, luminoso e límpido. No plano aromático as notas de fruta vermelha madura e fresca em relevo, muito nítida e atraente, com um lado mais de bosque, turfa levantada, míscaros, pedra lascada, fresco. Na boca brinda-nos com algum volume e cremosidade, acompanhado por uma rugusidade e acidez mais rústica, brilhando novamente a fruta vermelha, um lado muito fresco e com término de boca longo, elegante e viciante.
 
Um projecto cativante e a seguir com atenção. Cada vinho é uma viagem.

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