A Herdade Aldeia de Cima, projecto pessoal de Luísa Amorim e Francisco Rêgo no Alentejo, apresentou recentemente dois brancos distintos e de qualidade superior nascidos no Alentejo mais fresco da Serra do Mendro, Vidiqueira, e com a particularidade de serem os primeiros a ser inteiramente produzidos dentro das suas portas. A vindima de 2019 foi especial por ter sido a primeira a ocorrer nas suas instalações e sendo particularmente positiva pelo controle e gestão de timings
correctos que tal permite aliado a um ano generoso, com pouca chuva nos
dias mais importantes da vida da uva, elevadas amplitudes térmicas e boa
maturação.
O Reserva e o Garrafeira, ambos da colheita de 2019 trazem consigo o mesmo blend de castas, embora com quantidades diferentes (Antão Vaz, Arinto e Alvarinho) e com o processo de produção igualmente diferente. Sem surpresa, as luzes apontaram ao Garrafeira, um branco de balseiro, um vinho único e intemporal, onde podemos encontrar texturas finas, notas minerais e aromas intensos a fruta fresca, combinadas com a complexidade que as castas autóctones plantadas em altitude e temperadas pelos ventos frescos do Atlântico lhe conferem.
O uso da madeira do balseiro, com canais porosos diferentes das barricas, têm uma temperatura mais natural e tradicional durante a fermentação, no caso dos brancos cerca de uma a duas semanas mais longo, fornecendo mais taninos e lenta micro-oxigenação ao vinho, segurando a sua cor, aroma e frescura de fruta.
O termo Garrafeira tem sido reconhecido por todos como um sinónimo para vinhos de qualidade elevada que estão preparados para envelhecer em garrafa. É um termo bastante antigo, que em Portugal nasceu no Dão e na Bairrada, utilizado para vinhos mais especiais, que nos habituamos a ver descansar muito tempo em garrafa e, não tenhamos dúvidas, que será esse tempo de adormecimento em garrafa que fará integrar os elementos de estrutura, corpo, acidez, gravidade e madeira que só a garrafa e o tempo conferem aos grandes vinhos do Mundo.
Os Garrafeira passaram, depois, a integrar a legislação de alguns vinhos em Portugal, sendo uma menção apenas reservada aos vinhos de topo, com um estágio mínimo de 12 meses para os brancos - dos quais pelo menos seis em garrafa de vidro - e, no caso dos tintos, um estágio mínimo de 30 meses - dos quais pelo menos 12 meses em garrafa de vidro -, no caso do Alentejo devidamente acompanhados, com o tempo, pela Comissão Vitivinícola Regional Alentejana.
ANTÃO VAZ, ARINTO, ALVARINHO
HERDADE ALDEIA DE CIMA DO MENDRO, LDA
17,5
Cor amarelo citrino, intenso, tonalidade palha, algum leve esverdeado, aspecto límpido e brilhante. No nariz a mostrar muito o seu lado mais citrico, com fruta madura de pomar, fruta de caroço, perâ rocha, fruta de polpa amarela, perfume floral, tudo bem medido, com alguma especiaria em fundo e com envolvente mineral fresca. Boca com alguma tensão, texturado, com boa cremosidade, untuoso, largura de boca, traço marcadao mineral, final longo, intenso.
À mesa será companhia acertada para pratos com alguma complexidade, com alguma gordura e com a sua acidez a fazer equilibrios perfeitos. A ligação com o cozido de grão alentejano brilhou tanto.
HERDADE ALDEIA DE CIMA GARRAFEIRA 2019 BRANCO | ALENTEJO | 13,5% | PVP 42€
ANTÃO VAZ, ARINTO, ALVARINHO
HERDADE ALDEIA DE CIMA DO MENDRO, LDA
18
Cor amarelo de tonalidade palha mais intenso e marcado, mais coloração, aspecto límpido. Aromaticamente detentor de grande complexidade, notas mais fechadas a inicio, vai mostrando pouco a pouco uma fruta mais definida, mais natural e fresca, fruta de caroço madura, pêssego, alperce, pêra madura e maça, com um lado floral e uma pitada de petrolados, fruto seco torrado, fumados muito ao de leve, bem temperado, envolvente fresca, com um retronasal fabuloso. Na boca temos um vinho cheio de textura, com uma acidez fina, acutilante, que nos seca o palato de forma gradual e que se mantém, fresca, aliada a uma fruta de grande qualidade, sumarenta, com tónica mineral, envolvente e, caindo no risco de me estar a repetir, com uma elegância e persistência notáveis. Final de boca longo, persistente, a perder de vista.
Provei-o em dois momentos distintos no qual a temperatura de serviço foi ponto determinante. Temperatura mais baixa dá-lhe uma amplitude completamente diferente, assim como a sua abertura anterior ao momento em que se vai beber ou passá-lo para o decante.
Sem dúvida um branco de guarda. Por alguns anos. À mesa, tanto pratos de carne como de peixe, com complexidade. Um sopa de peixe, um Caldeirada ou um Ensopado de Borrego.
Dois vinhos diferentes e para momentos diferentes, ambos com uma linha comum na elegância, frescura e no potencial de guarda que lhe adivinho. O Garrafeira revela todo esse potencial, mas brilha mais porque dá já muito prazer ao beber no momento, está uma obra prima e sem golpe de magia.
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