A viagem até aos vinhedos onde os Terra Larga e Areias Gordas nascem não é longa. Confesso que saio de casa com alguma expectativa do que vou encontrar e dos vinhos que irei provar sendo que apenas conheço o Areias Gordas Colheita Tardia 2009 e o Tinto Ao Contrário também da colheita de 2009. A caminho até Salvaterra de Magos, mais conhecida pela criação de cavalos e touros para os espectáculos Tauromáquicos, e pouco depois estou rodeado por terrenos agricolas e com o Rio Tejo à minha esquerda. Parcela após parcela apenas vislumbrava produtos horticolas até que, quase que por magia, uma vinha. Cheguei!
À minha espera o produtor e enólogo Tomás Vieira da Cruz, um Senhor do vinho português com marca deixada desde 1996 em algumas casas bem conhecidas do panorama Nosso vinico. Quer como enólogo quer como Consultor, a passagem pela Adega Cooperativa de Borba, Sogrape Quinta dos Carvalhais, Dona Berta ou Quinta dos Termos, entre outros, mostram experiência e capacidade para nos surpreender onde quer que seja. E sei que aqui não será diferente.
Rapidamente fomos visitar as vinhas. Adoro sentir o aroma da terra e da vinha. Em volume as castas brancas são as rainhas do Terroir com o Fernão Pires em destaque, mas também com a Alvarinho, o Arinto e a Semillon como companhia. A Touriga Nacional, o Cabernet Sauvignon, a Tinto Cão, a Tinta Roriz e a Alicante Bouschet são as tintas. Mora por ali o sonho de um dia poder ser praticamente só castas brancas.
O terroir, que não se quer de biodinâmico, mas apenas dinâmico e com muita biodiversidade, parece viver às ordens de Tomaz Vieira da Cruz. Tudo a seu tempo para que se produzam dali vinhos à imagem do enólogo e principalmente brancos de excepção.
Um passinho até à adega e toca de provar o que havia em inox. Aqui sou surpreendido pela primeira vez. Vinhos praticamente prontos, cheios de vida, grande acidez, frescura e um potencial imenso. Como é possivel não conhecermos estes vinhos? Vinhos gastronómicos, com potencial de guarda e com preços altamente competitivos. É preciso ainda mais trabalho para desmistificar o nome desta região produtora de vinhos em quantidade e cada vez mais também qualidade.
Mais tarde, a prova de praticamente toda a gama de vinhos do produtor, já com possibilidade de os harmonizar com a comida e com o segundo momento de surpresa. Vinhos brancos com idade, nem sequer os vou chamar de velhos, com uma frescura e vivacidade que faz esconder de vergonha muitos que nem um ano de vida têm. Diferentes, com muita frescura e principalmente com muito tempo pela frente. Sem dúvida um produtor que vale a pena seguir e conhecer melhor.
Os vinhos provados nesse dia foram:
AREIAS GORDAS 2009 | COLHEITA TARDIA | 13% | PVP 20€
FERNÃO PIRES
Um colheita tardia de eleição. Apresenta com âmbar definida, brilhante e atraente. No nariz somos invadidos pelo aroma intenso do melaço, fruta seca e passa, pêssego maduro e o toque floral com a flor de laranjeira. Está viciante, complexo e com frescura. Rendi-me na boca ao toque untuoso, macio e aveludado com que sou presenteado. Doce, como se pretende, mas com toque citrinos que lhe dão equilíbrio e uma frescura desejada pois queremos continuar a bebe-lo. Um final de boca extra ordinário e terninamos a dar graças por a garrafa ser de 750ml.
5ª. DE MAHLER 2000 | BRANCO | 12,5% | PVP 4€
FERNÃO PIRES
Os vinhos brancos com idade estão hoje na moda. São mais procurados e mais compreendidos. Um branco de cor amarelo carregado, praticamente dourado, limpo. No nariz salta a fruta cozida, com boa intensidade e bem ligada com traços de alguma fruta seca e ligeiros tostados muito finos. Está em forma e a beber já. A prova de boca confirma isso mesmo. Fresco e com vivacidade, acidez equilibrada, ainda alguma fruta, algum sumo, todavia quero crer que este seja o melhor momento para o beber. Junte-lhe comida. Peixe assado no forno, umas iscas de leitão em cebolada. Belo.
AREIAS GORDAS 1997 | BRANCO | PVP 4€
ARINTO, TRINCADEIRA DAS PRATAS, FERNÃO PIRES
Por incrivel que parece este foi o gama de entrada deste produtor durante anos e que, segundo o produtor, pouco se vendeu no anos de lançamento. Que sorte para nós agora!
Cor já marcada pelo tempo, amarelo de tonalidade palha dourada, aspecto limpo. Aromas com intensidade média, notas de algum envelhecimento, mas não demasiadamente marcadas. Volto ao rótulo para me certificar que o ano é mesmo 1997. Também na boca está fresco e vivaz. Com bom equilibrio. Vinhos brancos para envelher? Concerteza!
AREIAS GORDAS 2000 | BRANCO | PVP 4€
ARINTO, TRINCADEIRA DAS PRATAS, FERNÃO PIRES
Um pouco no seguimento do 1997, mas neste caso, visualmente não está tão marcado pelo tempo. Aliás é surpreendente a cor que este branco ainda tem passados praticamente 14 anos. A fotografia diz muito. Aromaticmante muito semelhante e não boca surpreende por parecer mais evoluido que o anterior. Não trocámos a garrafa por isso está correcto. Um exemplo de bom envelhecimento e de garantia de qualidade após tantos anos.
TERRA LARGA 1999 | BRANCO | 12,6% | PVP 10€
ARINTO, TRINCADEIRA DAS PRATAS, FERNÃO PIRES
Este branco é sem dúvida de compra obrigatória. Esqueçam os preconceitos para com o vinho branco, esqueçam que se trata de um branco de 1999 e nem sequer pensem que é do Ribatejo. Bebam apenas e passem pela mesma experiência que eu.
Apresenta cor amarela palha dourada, brilhante e limpa. Aromas inebriantes que não cansam, fruta de madura bem ligada com notas de alguma fruta seca, fresco e desafiador. Na boca ficamos rendidos à sua maciez, untuosidade e leve toque mais doce numa bem rendilhada ligação com um acidez que lhe dá um estalo de vida. Beba-se e junte-se-lhe comida e amigos.
AREIAS GORDAS RESERVA 2000 | TINTO | PVP 5€
Passados praticamente 14 anos este é um vinho que continua vivinho, com grande acidez e com algum tempo ainda pela frente. As notas da pasagem dos anos são leves que na cor, quer nos aromas e quer mesmo na boca, o que faz com que seja uma experiência prazenteira e com um vinho que todos julgariamos já ido. Tinto cheio de frescura e, tal como os restantes, pronto a juntar a um bom prato ribatejano. Gastronómico.
AO CONTRÁRIO 2009 | TINTO | 12% | PVP
TINTO CÃO
Um vinho como o próprio nome diz Ao Contrário. Ao contrário do que é pedido, ao contrário do que por vezes é exigido. Para além de apenas se encontrar em garrafas magnum (1,5l), apresenta cor muito aberta para um tinto, pouca concentração em tonalidades violaceas destacadas. Aromas onde a fruta é rainha, com bastante frescura, sem madeira notória e muito clean e correcto. Na boca encontramos frescura, muita fruta fresca, não é aquele tinto encorpado a que estamos habituados, todavia dá prazer beber e acompanhar à refeição. Tem um final de boca persistente e apenas 12% de alcool. É ao contrário, é diferente, mas acabamos a gostar dele.